sexta-feira, 23 de maio de 2008

A farsa do biocombustível da Brasil Ecodiesel no Piauí

Por Tânia Martins



Em março de 2004, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou à nação brasileira, direto da Fazenda Santa Clara, no município de Canto do Buriti, a 400 quilômetros de Teresina, que o Brasil estava dando o primeiro passo para a substituição dos combustíveis fósseis por um combustível limpo, o biocombustível, produzido a partir da mamona, pela empresa Brasil Ecodiesel, talvez não imaginasse que por trás da encenação havia uma série de irregularidades.

Quatro anos depois do circo armado para o espetáculo governamental, a cortina veio abaixo e revelou uma realidade onde os principais protagonistas dessa história, os trabalhadores rurais, se consideram usados e enganados pela Brasil Ecodiesel, “Viramos refém dessa empresa", disse o trabalhador rural F.R. que autorizou somente a publicação de suas iniciais.

Ele se referia à dependência financeira e às más condições de trabalho que as mais de 600 famílias contratadas pelo projeto têm para com a Brasil Ecodiesel desde que assinaram o contrato, no início do projeto. A cada família foram destinados sete hectares, cinco para o plantio de mamona e dois para feijão. Do total da produção da mamona 30% é para a empresa e os 70% que sobram é destinado a cobrir o adiantamento de safra que atualmente é de R$ 160 reais que recebem por mês. O valor correspondente a três mil quilos de mamona por safra. Dessa maneira, não há como o trabalhador obter lucro, uma vez que para cobrir os custos da produção, teria que produzir 4.500 quilos nos cinco hectares. Ocorre que por uma série de problemas de ordem técnicas relacionadas à baixa fertilidade do solo, qualidade da semente, entre outros, no máximo estão conseguindo produzir 300 quilos por hectares. Em algumas áreas, a colheita não passa de 100 quilos por hectares.

Quanto ao feijão, cada família é obrigada a destinar 30% do que produz para a empresa. Ainda como parte do contrato, existe a entrega de uma cesta básica no valor de R$ 100 reais. Segundo o colono, Neto Hipólito, a cesta básica repassada não passa do valor de R$ 30 reais e, além de pífia, ainda atrasa quase todos os meses.

Estas irregularidades têm criado uma insatisfação generalizada na fazenda. Muitos já abandonaram o projeto porque temem que, mais cedo ou mais tarde, sejam obrigados a saírem da área, e, para piorar, ainda endividados já que, mesmo a Brasil Ecodiesel acumulando prejuízos com o projeto de biocombustível Embora, na unidade de produção do biocombustível, localizada em Floriano, a 240 quilômetros da capital, a empresa assegura que produz 40 mil litros por dia.

O que se questiona é: de onde está vindo à matéria prima?

Pelos cálculos de Neto Hipólito, a fazenda tem uma despesa mensal de RS 500 mil. "A gente não sabe de onde vem esse dinheiro, se vem do governo ou da própria empresa, aliás, por aqui ninguém sabe nada sobre esse projeto, se existe um dono e quem é ele. A gente só ver os encarregados, que por sinal está sempre mudando. Também continuam depositando os R$ 160 reais da parceria", relata.

Para se ter uma idéia da estranheza do projeto, por enquanto, o plantio de mamona da próxima safra, que deveria ter iniciado em outubro, até agora não aconteceu. "Começamos a plantar dai veio uma praga de lagarta e destruiu tudo, agora não sabemos quando vai recomeçar", contou um dos parceiros do projeto, o trabalhador rural Pedro Cosme da Silva, 34 anos.

Cosme disse ainda que pelo andar da carruagem a empresa não tem pressa, pois dos oito tratores ali existentes cinco foram levados para uma outra fazenda, que dizem ser da mesma empresa. "A preocupação é que ocorra o mesmo que aconteceu na safra passada quando o plantio foi feito fora de hora, acarretando uma produção mínima", disse.

Trabalho Infantil é de comover qualquer insensível

Nas 20 células, denominação dada pela Brasil Ecodiesel para as áreas onde foram construídas 35 casas, a insegurança e insatisfação é a mesma. Famílias se queixam de estarem passando necessidades. Para completar a renda muitas delas colocam as crianças para tapar buracos na BR-324 e ganharem trocados dos motoristas. Durante nossa passagem pelas proximidades das células, encontramos inúmeras crianças com idade entre seis a treze anos, labutando com uma enxada preenchendo infinidades de buracos no que resta de asfalto. Uma dela, T.C., seis anos, comove até aos mais insensíveis devido a magreza e pele muito clara. A criança passa o dia inteiro exposta ao sol e o seu rosto descascado e tomado por sardas é a prova do sofrimento que vimos também através de seus olhinhos infantis. Segundo ela, logo cedo tem que ir para a estrada conseguir uns trocados que são entregues a mãe para ajudar nas despesas da casa.

Um pouco mais adiante nos deparamos com os irmãos D.P., 10 anos, e A.P., nove anos. Eles contaram que passam o dia inteiro tapando buracos e ganham até 20 reais ao dia. "Às vezes a gente só consegue R$ 10 ou menos que isso. O bom é que mesmo sendo pouco a gente sempre ganha", contou D.P., um menino que se mostrou bem educado e inteligente. Ele disse também que com o dinheiro que ganham ajuda a comprar o que comer. "Nossos pais não queriam isso pra gente, mais é o jeito vir pra estrada se não a gente passa fome", completou. Quis saber como fazem para se alimentar e tomar água e D.P. contou que um outro irmão menor leva comida e água.

Já duas adolescentes, com idade entre 13 e 14 anos, que se encontravam na mesma situação resistiram conversar com nossa equipe. Depois de muita insistência as garotas revelaram que pedem dinheiro para comprar roupas. Sobre o perigo de serem molestadas por motoristas inescrupulosos, elas não responderam mais demonstram pelo comportamento que o perigo é uma constante. Já em conversa com os adultos, soubemos da ocorrência de prostituição infantil nas imediações da fazenda.

Produção de Carvão

A área total do projeto para produção de mamona é de 40 mil hectares. Desse total, somente três mil já deveriam ser utilizados para o plantio da monocultura, mas, todo o restante já foi praticamente desmatado para a produção de carvão vegetal. No interior da fazenda estão instalados cinco grandes fornos industriais, os mais modernos que existem e que são controlados por computadores.

Os homens que localizamos ensacando carvão próximo às fornalhas nada sabiam informar sobre a produção. Segundo eles, atualmente a lenha retirada da mata nativa está sendo levada para a Fazenda Canto do Buriti, aonde hoje vem sendo produzido carvão. Eles disseram ainda que os encarregados falaram que a atividade vai retornar em breve. Já o superintendente do Ibama no Piauí, Romildo Mafra, disse que apesar dos fornos, a fazenda Santa Clara não produz carvão. "Eles não têm o DOF-Documento de Origem Florestal, portanto, não podem fazer carvão", afirmou.

Artigo originalmente publicado pelo Razoar, http://www.razoar.com.br , 15/01/2008


Brasil Ecodiesel afirma que carvoaria é ecológica e só fez queimas de teste no Piauí

21/01/08
A empresa nega todas as acusações.

Em nota de três páginas, a Brasil Ecodiesel diz que a unidade instalada no município de Canto do Buriti, região sul do Estado, é considerada uma "carvoaria ecológica", criada como solução para evitar a degradação do solo pelo fogo na retirada da mata para o plantio de mamona. A Unidade de Teste de Produção de Carvão, de acordo com a nota, e só produziu queimas de teste e trabalha em circuito fechado, ou seja, "a fumaça produzida na queima alimenta o leito de secagem da lenha e o vapor produzido retorna para o início do ciclo".

A Brasil Ecodiesel afirma também que, somente após conferir a qualidade do carvão, a empresa decidirá se pedirá licença para produção de carvão para fins comerciais. Durante a denúncia, feita ao vivo no Jornal do Piauí, o chefe de fiscalização do Ibama já havia atestado por telefone que as imagens não caracterizaram produção de carvão, e que já havia feito fiscalização em 2007 no local e não encontrou irregularidades.

A empresa reconhece problemas naturais para a produção de mamona. "No início de dezembro, ocorreu um intenso ataque de lagartas nas áreas de plantio. [...] Apesar do imprevisto, o plantio encontra-se dentro do calendário, bem como do cronograma construído com os parceiros, tendo 30% de área já plantada", diz a nota. Ela afirma ainda que, mesmo em menos hectares, a variedade da mamona cultivada permite um maior número de plantas por área.

A nota ainda fala sobre a parceria com os trabalhadores rurais. Por contrato, 30% da mamona colhida fica com a Brasil Ecodiesel, e o adiantamento de safra de R$ 160 é referente a essa porcentagem, sendo os outros 70% dos agricultores. A empresa afirma que garante a compra do restante da produção se o trabalhador rural assim o quiser. Na denúncia, Judson Barros diz que as pessoas, devido a uma baixa produção, não estariam conseguindo pagar com mamona esse adiantamento.

Por conta disso, muitos estariam deixando o núcleo, outra informação contestada pela Brasil Ecodiesel. A desistência anual seria de 5%, e há um cadastro de reserva de 114 famílias interessadas em ingressar na área.

No final da nota, a Brasil Ecodiesel lamenta "que um projeto promissor como o do Núcleo possa vir a ser objeto de calúnias, infâmias e imprecações sistemáticas de interesses políticos escusos pela incompreensão quanto ao papel da companhia em sua relação com os agricultores rurais".

A Aliança do Etanol - ameaça à soberania alimentar e energética

Confira aqui - Um Relatório da Terra de Direitos em parceria com the Oakland Institute
Há exatamente um ano, o Presidente Bush visitava o Brasil. Na ocasião, celebrou com o Governo Brasileiro o que ficou conhecido como a “A Aliança do Etanol”. A foto estampada na capa dos principais jornais no Brasil e nos EUA pegou de surpresa muita gente: nela, os dois presidentes, sorriam um para o outro e alegremente abraçados davam-se as mãos. A cena seria inimaginável há 10 anos.

De repente, parecia que estávamos em um mundo sem Iraque, sem Abu Graib… Não fosse pelas mobilizações populares que ocorreram no Brasil, concomitantemente à visita de Bush, pareceria mesmo o “Fim da História”.

A Aliança do Etanol foi formalizada por um “Memorando de Entendimento” que estabeleceu uma série de medidas de cooperação para expandir a produção de etanol e criar no futuro, a primeira commodity do mercado internacional de agroenergia. Unindo os dois países que juntos respondem por 70% da produção mundial de etanol, as cartas foram colocadas na mesa, e ao resto do mundo, restava assistir.
Um ano depois, a próxima jogada está prestes a acontecer. Enquanto no Brasil, os usineiros foram proclamados “heróis nacionais” pelo Presidente Lula, tramita no Congresso Americano o orçamento federal para 2009.

Na tramitação do orçamento, o governo Bush deverá debater com o legislativo se a tarifa de importação ao etanol nos EUA (atualmente US $0.54 por galão ou US $ 0.14 por litro) deverá ser renovada ou não.

Destinada a proteger os produtores americanos de etanol (de milho) das importações competitivas, é evidente que a eliminação da tarifa terá grande impacto sobre os países exportadores de etanol, especialmente para o Brasil, responsável hoje por 70% do total das importações dos EUA (dados de 2006). Este número não inclui o etanol brasileiro que é simplesmente desidratado nos países que integram o tratado de livre comércio da “Iniciativa para a Bacia do Caribe” (Costa Rica, Jamaica e Trinidad e Tobago) e El Salvador, e depois, reexportado para os EUA. Esta triangulação permite que o etanol que sai destes países (mesmo que de origem brasileira) entre nos EUA com tarifa zero, até o limite de 7% da produção nacional estadunidense.

O relatório produzido pela Terra de Direitos e pela organização estadunidense Oakland Institute traz os desdobramentos da “Aliança do Etanol” desde a assinatura do Memorando de Entendimento, passando pela visita de parlamentares americanos ao Brasil em novembro de 2007. Também apresenta a perspectiva de organizações e movimentos sociais reunidos na I Conferência Popular sobre Agroenergia, realizada em Curitiba, em fins de outubro de 2007. Esta Conferência demonstrou claramente a oposição de amplos setores da sociedade brasileira ao discurso oficial do Governo Brasileiro.

O relatório demonstra como o ‘fator etanol’, no contexto atual por ‘segurança energética’ nos EUA está se tornando uma força de integração na região e que, por isso, vem definindo uma nova configuração geopolítica na América Latina.

“Hoje o que torna o Brasil distinto de qualquer outro país é que etanol e os biocombustíveis, como alternativas de energia “limpa”, tornaram-se ferramentas de barganha e o foco central para atingir as aspirações econômicas e políticas do Brasil no plano internacional, ao mesmo tempo em que exacerbam as questões sociais e ambientais no contexto doméstico”, afirma Camila Moreno, pesquisadora da Terra de Direitos e autora do Relatório. “Os Biocombustíveis e a estratégia da agroenergia tal como proposta pelo Governo dependem da expansão massiva das monoculturas e da biotecnologia (OGMs) sob o sistema agroindustrial controlado pelas corporações. Basta percorrer algumas estradas do campo brasileiros para perceber como a expansão do agronegócio e dos biocombustíveis está transformando milhões de hectares de valiosos ecossistemas naturais incluindo o Cerrado e a Amazônia em uma grande monocultura”, afirma a pesquisadora.

Esta expansão das monoculturas e da agricultura industrial determina hoje o acesso e controle sobre os recursos naturais (terra, água, florestas, biodiversidades, petróleo e gás) e está na raiz de praticamente todos os conflitos sócio ambientais no Brasil assim como nos outros países da América Latina.

Contudo, apesar dos crescentes conflitos que a expansão dos agrocombustíveis seguramente irá exacerbar, a política externa brasileira está se esforçando para qualificar o etanol brasileiro como um ‘bem ambiental’ junto à OMC, fazendo assim com que o comércio seja promovido ‘em favor do meio ambiente’ - um tema sensível e uma tarefa importante em meio às preocupações com o aquecimento global. O relatório destaca que, de fato, os agrocombustíveis estão servindo como um Cavalo de Tróia para promover acordos de livre comércio.

“Mais e mais estudos científicos demonstram que os biocombustíveis aumentam o aquecimento global, uma vez que uma vasta maioria deles em todo o seu processo de produção emite mais dióxido de carbono no ar do que a quantidade de CO2 que podem absorver. Embora as evidências gritantes, entidades internacionais tais como a UNCTAD e a FAO estão promovendo iniciativas de biocombustíveis utilizando um marco de “desenvolvimento”. As nações ricas estão adotando metas de mistura obrigatórias para aumentar o uso de biocombustíveis embora estas não possuam a terra agrícola e a capacidade de produção necessária para atender estas metas. Estas metas, logo, dependem dos países produtores do Sul, e de recursos valiosos como terra e água”, disse Anuradha Mittal, diretora executiva do the Oakland Institute e co-autora do informe.

O pano de fundo deste Relatório é o questionamento da estratégia corporativa que conseguiu determinar o discurso oficial global sobre o aquecimento global e ofereceu uma maneira de enfrentá-lo sem tirar as “cadeiras do lugar”: ao invés de tomar as medidas para incidir nas causas estruturais das mudanças climáticas, os biocombustíveis estão auxiliando a criar novos arranjos políticos destinados a maximizar os lucros corporativos e perpetuar os desequilíbrios de poder global.

Este momento crucial de ‘tornar verde’ as corporações e ‘descarbonizar’ a economia para salvar o planeta promove e revigora o livre comércio, mas disfarça-se sob o compromisso de combater as mudanças climáticas.

A crise ecológica causada pela sociedade industrial grita por uma mudança de paradigma em nossos padrões de produção e consumo e na forma como dependemos da Natureza para prover nossas necessidades básicas que garantem nossa sobrevivência diária: ar para respirar, água para beber, terra fértil para cultivar alimentos, fibras e madeira, e biodiversidade - para garantir a todas as diversas e únicas formas de vida neste Planeta seu direito de simplesmente existir.

Fonte Terra de Direitos

POR UMA SOBERANIA ALIMENTAR E ENERGÉTICA

Documento Final da 1ª Conferência Nacional Popular Sobre Agroenergia
Posição das organizações, movimentos e pastorais sociais sobre a agroenergia no Brasil.

Em Defesa da Soberania Alimentar e Energética

Não há dúvida de que o planeta Terra está gravemente enfermo devido à ação destruidora do Capital, o grande responsável pela devastação ambiental, o aquecimento global e mudanças climáticas, além da privatização de todas as formas de vida. Estamos diante de uma encruzilhada: ou mudamos o paradigma de civilização atual ou a humanidade e a vida no planeta será destruída.

A nossa luta é por uma nova civilização baseada em uma relação de harmonia entre a humanidade e a natureza. Uma civilização em que não prevaleça o consumismo e a lógica do lucro e do mercado, que devasta os recursos naturais, concentra a riqueza e poder nas mãos de poucos e gera pobreza e desigualdade social. Lutamos por uma sociedade baseada na justiça social e ambiental, na igualdade, na solidariedade entre os povos, assentada em valores éticos coerentes a sustentabilidade de todas as formas de vida.

Diante disso nos posicionamos:

1. Defendemos que a terra, água, sol, ar, subsolo e a biodiversidade sejam conservados e utilizados de modo sustentável para prioritariamente produzir alimentos e proporcionar trabalho e qualidade de vida.

2. Afirmamos o principio da soberania popular sobre o território e seu destino. A soberania alimentar e energética é o direito do povo a produzir e controlar os alimentos e a energia para atender suas necessidades.

3. A produção de energia não pode, de modo algum, substituir ou colocar em risco a produção de alimentos. A agroenergia só deverá ser produzida de forma diversificada e complementar à produção de alimentos.

4. A política de produção de agroenergia não pode continuar a ser determinada pela lógica de mercado, e pelos interesses das empresas petrolíferas, automobilísticas e do agronegócio. Combatemos o controle do capital estrangeiro sobre a economia, a terra, os recursos naturais e as fontes de energia do Brasil.

5. A agroenergia deve ser produzida para garantir a soberania energética do povo e não, como é promovida atualmente pelo governo, para ser exportada com o objetivo de abastecer os países ricos do norte e gerar lucros para o agronegócio eas grandes empresas nacionais e transacionais.

6. O atual modelo de produção de agrocombustíveis está pressionando a expansão das fronteiras agrícolas e ameaçando os biomas brasileiros, principalmente a Amazônia e o Cerrado. Exigimos o fim do desmatamento e da expulsão de agricultores em todos os ecossistemas brasileiros. Afirmamos a soberania de todos os povos e comunidades tradicionais sobre o território. 7. A soberania alimentar e energética deve ser baseada na agroecologia e em uma economia que ao mesmo tempo expresse e integre nacionalmente, de maneira democrática, as economias local e regional com suas necessidades e características específicas. Combatemos o modelo insustentável e excludente do agronegócio, um dos principais causadores das mudanças climáticas devido à transformação do uso da terra, o desmatamento e a utilização massiva de agrotóxicos e transgênicos, além da mecanização e do transporte de mercadorias em escala planetária.

8. Rechaçamos e combatemos qualquer tipo de monocultura e propomos que se limite do tamanho das propriedades rurais e o limite das áreas destinadas para a produção de agroenergia em cada estabelecimento, município e região.

9. Reafirmamos a necessidade de uma reforma agrária popular, do reconhecimento dos territórios dos povos e comunidades tradicionais e de um processo de democratização de acesso a terra como via para garantir a soberania alimentar e a soberania energética. O atual modelo do agronegócio é um processo de contínua concentração da propriedade da terra.

10. Lutamos por um modelo energético sustentável e diversificado. A agroenergia é apenas uma das alternativas ao lado de medidas de eficiência e outras fontes de energia renovável e sustentável.

11. Defendemos um modelo energético popular e descentralizado, que expresse as necessidades sociais e as características e potencialidades locais e regionais. Propomos a produção e gestão na forma de pequenas unidades energéticas cooperativadas, comunitárias ou familiares sob controle dos camponeses, comunidades tradicionais e trabalhadores.

12. O papel dos camponeses e da agricultura familiar deve ser definido pela sua soberania e autonomia. Portanto, somos contra o sistema de integração que atrela os agricultores a empresas de agroenergia, que apenas exploram sua mão de obra. Defendemos políticas públicas que garantam crédito, assistência técnica e condições para que os camponeses produzam agroenergia em pequenas unidades de produção.

13. Lutamos por um novo sistema de transporte que integre suas diferentes formas (fluvial, ferroviário, rodoviário) e privilegie o transporte público e coletivo de qualidade, em vez do modelo insustentável e irracional dependente de petróleo e que privilegia o transporte individual.

14. Exigimos que o Estado brasileiro estimule, normatize e controle uma política de soberania energética em nosso país. Para isso, são necessários instrumentos, políticas e instituições públicas com controle social que garantam o papel efetivo do Estado para gerir todo o processo de produção e comercialização de agroenergia no Brasil.

Assinamos a carta, nós, 500 participantes da Iª Conferência Nacional Popular sobre Agroenergia, representando os movimentos que compõem a Via Campesina, ambientalistas, sindicalistas e pastorais.

Aderem à proposta:

Leonardo Boff - Teólogo

Roberto Requão - Governador do Paraná

Adriano Beyanon - Professor da Universidade Nacional de Brasília

Pastor Werner Fuchs

Terra de Direitos

Via Campesina Brasil

Primeira Conferencia Nacional Popular sobre Agroenergia. Na defesa da soberania alimentar e energética.

Curitiba, Paraná, Brasil. 31 de outubro de 2007

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Pequenas usinas têm potencial gigantesco


Entre as diversas fontes de energia renovável, as pequenas centrais hidrelétricas, ou simplesmente PCHs, foram destaque quarta-feira (21/5), no Fórum Global de Energias. Apesar de diminutas, as PCHs apresentam vantagens inversamente proporcionais ao seu tamanho. Essas usinas foram tema da mesa-redonda intitulada “Pequenas hidrelétricas – Potenciais e oportunidades”, que reuniu especialistas de várias partes do mundo e foi moderada pelo diretor técnico-executivo da Itaipu, Antonio Otélo Cardoso.

O debate foi marcado pela convergência de opiniões e pelo intercâmbio de experiências. Estiveram presentes Mentor Poveda, representante da Organização Latino-Americana de Energia (Olade); Firmino Mucavele, diretor executivo da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Nepad); Arun Kumar, diretor do Centro de Alternativas em Hidroenergia da Índia; Tong Jiandong, diretor geral da Rede Internacional de Pequenas Centrais Hidrelétricas, da China; e Geraldo Lúcio Tiago Filho, secretário executivo do Centro Nacional de Referências em Pequenas Centrais Hidrelétricas (CERPCH).

Vantagens e exemplos

Todos concordaram que o papel das PCHs é complementar ao das grandes usinas, e sobre as vantagens dessa fonte de energia. Entre elas, a constatação de que, como operam a “fio d’água” (não precisam de reservatórios e são geralmente construídas em pequenos rios), apresentam ainda enorme potencial de exploração em todo o planeta. E mais: a construção pode acontecer em pouco tempo e com menor impacto ambiental; por não exigir equipamentos muito complexos, aproveitam a mão-de-obra e tecnologia local; e, principalmente, descentralizam a produção o que facilita a distribuição de energia em locais mais afastados. Entre os problemas a superar, estão as dificuldades de financiamento e a eficiência prejudicada pela variação no volume de água (em função dos pequenos ou ausentes reservatórios).

Os exemplos encantaram a platéia. Poveda fez um panorama geral da hidroeletricidade nos 16 países da Olade e apresentou modelos bem sucedidos de PCHs instaladas em comunidades totalmente isoladas, nos Andes, onde a energia dificilmente chegaria por meio de uma grande usina. Entre eles, a micro-hidrelétrica de San Antonio de Lípez, na Bolívia, que gera 25 KW e beneficia uma pequena comunidade indígena formada por 62 famílias.

Da mesma forma, Kumar e Jiandong falaram da prática indiana e chinesa, respectivamente, enquanto Mucavele (na foto à direita) ressaltou a expectativa de difundir as PCHs na África. O continente enfrenta o problema de ter o crescimento energético inferior à taxa de natalidade. Apesar do baixo consumo per capita, dispõe de recursos naturais adequados à profusão dessa fonte.

Crescimento

No mundo, as definições para caracterizar uma PCH variam muito. No Brasil, considera-se pequena hidrelétrica aquela com capacidade instalada de 1 a 30 MW e com área de reservatório menor que 3 quilômetros quadrados. Em uma escala de produção muito menor, o funcionamento básico de uma PCH é semelhante ao de uma grande usina: a água gira as pás de uma turbina conectada a geradores que produzem energia. “Apesar de ser um dos diretores da maior usina hidrelétrica do mundo, para mim é uma honra poder participar de uma discussão sobre as PCHs, pois o Brasil está entre os dez países com maior capacidade instalada nesse tipo de fonte”, disse Cardoso durante o debate. De fato, somente no Brasil há centenas de PCHs operando. E a expectativa é de crescimento rápido. Segundo o CERPCH, em fase de elaboração existem 220 projetos no País; já em análise, 268; e aprovados, esperando somente o início das obras, 247.



Fonte Itaipu Binacional

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Biocombustível não concorre com alimentos


O possível conflito entre a produção de alimentos e a geração de combustíveis renováveis – argumento utilizado para atacar as pesquisas brasileiras com o biodiesel – foi veementemente negado durante a mesa redonda que teve como tema “Bioenergia – Biocombustíveis como alternativa viável para combustíveis fósseis”, realizada na tarde de terça-feira. O debate fez parte da programação do Fórum Global de Energias Renováveis, que prossegue hoje no Hotel Bourbon Cataratas, em Foz do Iguaçu.

Para o moderador da discussão, João José de Nora Souto, secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, ao contrário do que afirmam os críticos, a plantação de mamona, dendê, girassol e algodão (algumas das principais matérias-primas do biodiesel) não concorre com a produção de alimentos.

Segundo Souto, exemplo disso será dado em breve, quando o Brasil for aumentar a sua demanda por biodiesel. “A partir do segundo semestre deste ano, o diesel derivado de petróleo terá a inclusão obrigatória de 3% de biodiesel. Em nosso território, apenas 0,6% de toda a área agricultável será utilizada para atender a esta demanda”, afirmou.

Muitos dos diagnósticos e conclusões foram amparados em previsões. Dan Arvizu, diretor do Laboratório Nacional de Energia Renovável (da sigla em inglês NREL), dos Estados Unidos, disse que “de 2005 e a 2030 haverá, no planeta, um aumento de 55% no consumo de energia.” Um quadro que, diante do aumento no preço do petróleo, exige o desenvolvimento da bioenergia. “Mas isso não será possível sem a aproximação e integração entre tecnologia, mercado e política”, avaliou. A estimativa de José Turbino, que falou em nome de José Graziano da Silva, representante para a América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é otimista. “Em 20 anos, os biocombustíveis devem atender a 25% da demanda global”, prevê.

Benefícios ambientais e sociais

Além dos ganhos ambientais proporcionados pelo combustível que pode se renovar, os benefícios sociais também foram ressaltados. Sobretudo pelo presidente da Associação de Produtores de Biocombustíveis da Zâmbia, Thomson Sinkala, e pelo coordenador nacional para o Desenvolvimento Sustentável de Biocombustíveis da Colômbia, Arturo Infante. “Vivemos, em nosso país, um conflito interno bastante peculiar. Os biocombustíveis têm um papel fundamental quando este problema for resolvido”, disse o colombiano. “É um combustível social que move a mudança climática”, avaliou o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Dornelles.

Sem rodeios, Dornelles foi direto ao centro da questão. “O biocombustível é a melhor alternativa ao fóssil porque promove a diversidade da matriz energética; favorece a segurança alimentar ao desenvolver a agricultura e gerar renda de modo sustentável no campo; fomenta o desenvolvimento econômico regional e nacional; e alivia os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou.

Novamente o Brasil foi elevado à condição de modelo para o fomento da bioenergia. Dornelles apontou os exemplos praticados no País, onde “dez montadoras multinacionais produzem quase 100 modelos diferentes de veículos com tecnologia flex-fuel.” A lembrança do Proálcool também foi inevitável. “Cerca 1,2 bilhão de barris de petróleo foram economizados no Brasil em função da utilização do álcool nos últimos 30 anos”, lembrou Souto. A mesa redonda contou ainda com a participação de Helena Chum, pesquisadora da NREL.

Legislação deve fomentar energias renováveis

Os governos da América Latina devem criar normas legais para fomentar a produção e o desenvolvimento de fontes de energias renováveis. Mas as leis precisam estar em harmonia com cada país. Assim pensa o especialista Telmo Gabarain Astorqui, gerente de Desenvolvimento de Negócios para a América Latina, que participou nesta terça-feira do painel “Energia Eólica – Potencial Global e Oportunidades”, no Fórum Global de Energias Renováveis, em Foz do Iguaçu. “Os governos dos estados devem liderar programas de incorporação que impulsionem as energias alternativas”, disse.

Segundo Gabarain, os estados precisam traçar metas e objetivos específicos para obter sucesso nos programas. Devem constar, dentro do cronograma, objetivos quantitativos, que definam a estimativa de produção por Megawatts; e temporais, os quais possam estipular prazos aos projetos. “Devemos atribuir ainda responsabilidade às instituições privadas e ter vontade política, para atingirmos um verdadeiro grau de implementação desses programas na sociedade”, ressaltou.

O especialista designa também responsabilidade às organizações internacionais, como as Nações Unidas e o BIRD (Banco Mundial). Tais instituições, em seu ponto de vista, podem facilitar linhas de financiamento aos produtores de energias renováveis com perspectivas de retorno financeiro.

O apoio, nesse caso, se dá através de empréstimos a juros abaixo do mercado e em pacotes monetários que promovam o desenvolvimento industrial nessas nações. “Para garantirmos progresso e riqueza às comunidades precisamos, de alguma forma, integrar os investimentos em toda a região”, ressaltou.

De acordo com o analista, a produção de energia eólica poderá tornar-se uma alternativa eficaz caso os governos adotarem a política de expansão da matriz de energias renováveis na América Latina. Telmo Gabarain considera esse tipo de energia barata e acessível principalmente para pequenos produtores rurais. “A grande vantagem para os proprietários ao implantarem esse sistema são as possíveis receitas adicionais, pois a técnica é relativamente simples e acessível para os países com economia em desenvolvimento”, frisou.

Com a produção eólica, os produtores conseguiriam o autoabasteciemnto da propriedade, além de comercializar o excedente de produção para companhias de energia, o que deve gerar, conseqüentemente, uma nova fonte de renda.

Energia do esgoto interessa a africanos

Representantes de entidades governamentais e de empresas privadas que participam do Fórum Global de Energias Renováveis, que prossegue até o meio-dia de hoje no Hotel Bourbon, em Foz do Iguaçu, conheceu na terça-feira um modelo inovador de fonte de energia. É a unidade piloto de energia renovável da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar, desenvolvida em parceria com a Itaipu Binacional e com a Companhia de Energia Elétrica do Paraná (Copel), entre outros.

O protótipo “Estação de Tratamento de Esgoto Ouro Verde de Energia Renovável”, localizado na Vila Shalon, em Foz do Iguaçu, em breve vai gerar biogás convertido a partir do tratamento do esgoto doméstico de 17.500 pessoas moradoras de bairros da região, como Porto Meira e Morenitas. A energia gerada vai abastecer o próprio sistema. Assim, além de garantir um tratamento adequado aos dejetos, a estação vai gerar a própria energia que consome e, dessa forma, economizar na conta de eletricidade. O excedente será repassado à Copel.

“Os participantes do fórum solicitaram uma visita para conhecer melhor o projeto, pois têm a intenção de estabelecer um acordo de cooperação entre seus países e o Brasil”, explicou Cícero Bley Júnior, coordenador da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis. Além da estação de tratamento de esgoto de Foz do Iguaçu, a Plataforma Itaipu também atua em outros cinco projetos que aliam a obtenção de biogás ao saneamento ambiental.

Apesar de ainda faltar alguns equipamentos para a estação poder funcionar plenamente, os visitantes – a maioria proveniente da África – puderam ter uma boa noção da dinâmica da unidade. Após assistirem a um vídeo institucional da Sanepar, eles conheceram os equipamentos básicos da estação. Entre eles, o sistema de entrada e recebimento do esgoto bruto; o sistema de desaneração (onde acontece a separação das partículas mais densas); o reator do manto de lodo e fluxo ascendente (onde há a remoção de sedimentos e de parte da matéria orgânica); o armazenamento do gás metano (em compartimentos de lona); e o motor de combustão interna.

esultado: ficaram maravilhados. “Na China tive uma noção desse tipo de tecnologia, mas é a primeira vez que vejo pessoalmente”, disse Marcelina Mataveia, engenheira chefe do Departamento de Biomassa do Ministério de Energia de Moçambique. “Acredito que podemos perfeitamente usar isso em meu país. É algo limpo e futurista, que traz muitos benefícios”. Esther Mfugate, do Ministério da Agricultura da Tanzânia, apreciou o que, para ela, é uma grande novidade. “Estações de energia aproveitando material humano realmente podem trazer muitos resultados positivos”, disse.

Biocombustível, no Brasil, tem compromisso social

Quando criou o programa de biocombustível, o governo brasileiro não se voltou apenas à produção de energia, mas também ao seu viés social – o cultivo das fontes renováveis para produção de energia levaria a rincões distantes a oportunidade de trabalho e renda. A parceria entre indústria produtora de biocombustíveis e a agricultura foi tema da fala do coordenador do Programa Brasileiro de Biodiesel, Carlos Cristo, na abertura da mesa redonda “Bionergia – Potenciais e desafios na Indústria”, durante o Fórum Global de Energias Renováveis, que prossegue até o meio-dia desta quarta-feira, no Hotel Bourbon, em Foz do Iguaçu.

Para reforçar a questão social dos biocombustíveis, Cristo citou o caso da Brasil Ecodiesel, uma das maiores produtores de biodiesel do Brasil, que fechou um recente acordo de concessão de terras com o governo do Piauí. A empresa investiu em infra-estrutura, construindo casas para 700 famílias, escola para 1500 crianças, além de postos de saúde. Essas pessoas trabalham no cultivo da matéria-prima e terão garantida a titularidade da terra após dez anos de trabalho, quando termina o período de concessão das áreas para empresa.

“O projeto tem um significado social fantástico”, enfatizou Cristo. Ele acredita ser importante que as questões sociais pesem na certificação das empresas e também na valorização do produto final. “É importante mostrar à Europa sobre a preferência em importar um produto com compromisso social.”

Também para Semilda Silveira, chefe da Divisão de Estudos Climáticos e Energia da Escola de Administração e Engenharia Industrial, da Suécia, o viés social deve prevalecer em toda a escala de produção da bioenergia. “Tradicionalmente as indústrias têm se preocupado apenas com os produtos finais e não com a parte inicial da produção”, afirmou. Silveira focou sua apresentação na questão do campo, e mostrou a situação da bioenergia na Suécia.

O caso da Suécia é exemplar. De 1970 a 2005, apesar do aumento da qualidade de vida dos habitantes, foi mantido o mesmo gasto per capita de energia. “Isso significa que aumentamos a eficiência energética”, afirmou. Além disso, com exceção do setor de transportes, todos os outros utilizam predominantemente energias renováveis. Um caso único na Europa.

Na visão de Semilda, os países devem compartilhar tecnologia para melhorar a produtividade no campo. Na África Subsaariana, por exemplo, a produção é de um terço da média mundial, o que torna inviável tanto o cultivo de comida quanto o de matéria-prima para os biocombustíveis.

Cooperação tecnológica

Investimento em tecnologia aumentaria a participação das energias renováveis nas matrizes dos países. Para Pradeep Monga, chefe da Unidade de Energia Renovável e Rural do Onudi, até 2020, com o reforço tecnológico será possível que as fontes renováveis tenham uma participação de 30 a 40% na matriz energética mundial.

Segundo ele, a maior parte da energia consumida pelo setor industrial é utilizada para processos de aquecimento (com nos setores têxteis e de celulose) - 80% em processos que dependem de meros 80ºC de aquecimento. “Essa energia poderia ser suprida pela fonte solar. O restante pode utilizar a biomassa”, disse.

A cooperação entre os países permitiria um avanço na produção de bioenergia, acredita Arnaldo Walter, no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Energéticas (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com a cooperação Norte-Sul há difusão de conhecimento, permitindo que os países pobres passem a produzir energia e se desenvolver e não meramente fornecerem matéria-prima.

Fonte: Itaipu Binacional

terça-feira, 20 de maio de 2008

Hidrelétricas são prioridade, diz Altino Ventura

O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, afirmou neste domingo (18), durante a abertura do Fórum Global de Energias Renováveis, que o Brasil vive um momento único no setor de energia. Ele avaliou como confortável a posição brasileira no cenário energético mundial e defendeu a construção de novas usinas hidrelétricas como prioridade para o País.

De acordo com Altino Ventura Filho, o Brasil se consolida como uma das poucas nações a chegar próximo da autonomia energética, ao mesmo tempo em que não precisa se preocupar com novas crises no setor elétrico em um horizonte próximo e fortalece a sua posição de modelo para a exploração de recursos de origem renováveis em escala planetária. Posição aparentemente tranqüila que, segundo o secretário, nem de longe significa conformismo.

Para ele, são necessários mais investimentos no setor, a começar por uma fonte que, apesar de fornecer mais de 90% da energia elétrica consumida no País, não utiliza nem metade da sua possibilidade de exploração em território brasileiro. “O Brasil aproveita um pouco menos de um terço do seu potencial hidrelétrico e, portanto, tem amplas chances de desenvolver a longo prazo essa fonte. E essa é nossa prioridade”, afirmou.

Mas o secretário também não desvia o foco de outras fontes renováveis de energia, que, segundo ele, podem ser extraídas aproveitando características geográficas favoráveis do Brasil. “Há possibilidades muito amplas, como o bagaço de cana, resultante da indústria do açúcar e do álcool, que já faz com que a biomassa seja uma das origens mais importantes para o País, já superando a hidreletricidade no nosso balanço energético total”, avaliou. Atualmente, o Brasil tem 46% da sua energia provida de fontes renováveis (hidráulica, eólica, solar e biomassa). A média mundial é de 13%. Índices que, de acordo com o secretário, devem crescer.

“Somos pioneiros no programa do álcool como combustível, que é um sucesso, e agora estamos entrando no biodiesel, que também deverá ter êxito a médio e longo prazo”, estimou. O fórum em Foz do Iguaçu, que conta com a presença de representantes de mais de 50 países, permitirá, segundo Ventura, uma grande troca de experiências para levantar as opções que se apresentam como as mais favoráveis ao aproveitamento das fontes renováveis. “Nesse contexto, o Brasil tem hoje uma liderança reconhecida internacionalmente”, destacou.

Aneel aprova projeto de geração distribuída

O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, anunciou terça-feira(20/5), no Fórum Global de Energias Renováveis, em Foz do Iguaçu, que recebeu do diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Jerson Kelman, a garantia de que o órgão federal vai aprovar o projeto de Geração Distribuída (produção de energia junto à unidade consumidora), modalidade que foi implantada e testada pela empresa em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel), na região Oeste do Paraná. “O trâmite do projeto na Aneel já caminhou 99%, faltando apenas algumas formalidades burocráticas que serão concluídas dentro de 15 dias”, comemorou Samek, que recebeu a notícia de Kelman ontem, por telefone.

A Geração Distribuída é a modalidade de produção de energia que viabiliza a adoção de pequenas unidades geradoras, baseadas em fontes renováveis. Apesar de haver um marco regulatório para o tema (Decreto Federal 5.163, de 2004, e Norma Técnica 167 da Aneel, de 2005) faltavam estudos que estabelecessem parâmetros operacionais. Por isso, a Itaipu e a Copel se uniram para viabilizar esse tipo de geração em uma granja de suínos localizada em São Miguel do Iguaçu. A partir do referendo da Aneel, as empresas do setor elétrico poderão comprar a energia produzida em propriedades como essa.

Nessa propriedade, os dejetos de 3 mil suínos são acumulados em um biodigestor, onde geram biogás, que é utilizado para movimentar um motogerador que abastece toda a infra-estrutura, inclusive um conjunto de residências. A energia excedente (em uma semana de testes foram gerados 380 megawatts/hora de sobra) é incorporada à rede pública graças a um painel fornecido pela Woodward e aprimorado pela Copel, que permite controlar o fluxo da eletricidade entre as redes interna e externa. “O principal aspecto não é o energético, mas o econômico, pois além da economia na conta de luz, o produtor rural passará a ter uma nova fonte de renda. Além disso, essa modalidade tem grande potencial para fomentar a economia local, com a aquisição de produtos e serviços”, acrescenta Samek.

A partir dessa experiência, a Itaipu implantou, com outros parceiros, outras unidades do gênero, como a Estação de Tratamento de Esgoto Ouro Verde, com a Sanepar, onde os resíduos do tratamento geram energia, combinados com a instalação de painéis fotovoltáicos, para produção de energia solar. Também são parceiros a Cooperativa Lar e a empresa Star Milk, ambas com projetos de geração energética a partir da biomassa residual da atividade agropecuária.

A principal vantagem do uso de biodigestores para a produção de energia é ambiental, já que o processo reduz em 80% as cargas orgânicas dos efluentes. E o processo tem como subproduto o biofertilizante, para ser usado na agricultura. “Um dos grandes vilões do aquecimento global é o gás metano (CH4), decorrente dos dejetos da pecuária e também do esgoto urbano”, explica Samek. “Estamos mostrando as inúmeras possibilidades que temos de produzir energia limpa, provando que é possível compatibilizar crescimento econômico, geração de emprego e renda e preservação ambiental”.

Fonte: Itaipu Binacional

Fotos Luis Henrique Silveira





Um quarto da população não tem energia


Um quarto da população mundial (cerca de 1,6 bilhão de pessoas) não tem acesso à energia elétrica e outros 2,4 bilhões de pessoas utilizam a energia de forma precária. Baseadas nesse panorama, autoridades e especialistas de vários países participaram na manhã de segunda-feira (19/5) da conferência “Tendências para a Energia no Cenário Global”, durante o Fórum Global de Energias Renováveis, em Foz do Iguaçu. A conferência foi moderada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas Energias, Altino Ventura Filho.

Segundo o secretário do MME, o Brasil já tem garantida a auto-suficiência de energia até 2030, visto a riqueza e a variedade de fontes energéticas. Grande parte dessa auto-suficiência é proporcionada pelas fontes renováveis, que correspondem a 46% da matriz energética brasileira. Em sua apresentação, Altino Ventura Filho mostrou um histórico da participação das fontes renováveis na agenda energética brasileira, desde o Proáalcool, na década de 70, ao atual Programa de Biodiesel.

“A produção de biodiesel não acarreta em problema à produção de alimentos”, frisou. “O aumento do custo de produção de alimentos ocorre pela alta do preço do petróleo.” Ele informou que a experiência brasileira com os biocombustíveis está disponível aos outros países.

Para Dimitri Piskounov, diretor do Programa de Desenvolvimento e Divisão de Cooperação Técnica da Organização das Nações Unidas para Desenvolvimento Industrial (Onudi), a falta de alimentos tem outras causas, entre elas o desperdício pós-colheita. Em países subdesenvolvidos, 50% dos alimentos são perdidos devido à falta de infra-estrutura de transporte e de armazenamento.

Diante do número elevado de pessoas que não são beneficiadas com o fornecimento de energia elétrica – 80% delas vivendo na zona rural de países pobres –, Dimitri acredita que as fontes renováveis têm o importante papel de prover energia a essas pessoas. “A prioridade é fornecer energia para o setor produtivo e acelerar a redução da pobreza”, afirmou.

O panorama das diferentes energias renováveis na América Latina e Caribe foi tema da fala de Carlos Arturo Flórez Piedrahita, secretário-executivo da Organização Latino-Americana de Energia (Olade). De acordo com ele, o potencial energético da região é muito grande, mas pouco aproveitado: dos quase 660 mil MW de potencial hidrelétrico, por exemplo, apenas 21% se convertem de fato em energia. Até 2018, empurrada pelo setor industrial, a demanda de energia vai crescer 78%, informou Piedrahita. Em paralelo, a participação do petróleo na matriz energética da região vai ser reduzida em 42%, aumentando a importância de fontes como gás natural, biocombustíveis e hidroeletricidade. “O incremento da participação das hidrelétricas vai depender da integração dos países”, avisou.

A participação da hidroeletricidade tem um grande papel no panorama atual e futuro, acredita Thomas Stelzer, subsecretário-geral para políticas de coordenação e assuntos inter-agências do Departamento Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ele, um quinto da energia mundial é produzida por hidrelétricas espalhadas por 140 países. “Desde a década de 90 tem-se construído hidrelétricas menores. O principal objetivo é minimizar o impacto social e ambiental”.

A energia eólica foi tema da apresentação do presidente da Associação Mundial de Energia Eólica, Anil Kane. Segundo ele, a crescente demanda mundial por energia tem feito a fonte eólica cada vez mais desejável. Ele comparou a energia eólica com a nuclear e a fóssil, destacando o custo de produção muito mais baixo da primeira.

Kane informou que no contexto mundial 61% da energia eólica é produzida na Europa. Mas a América do Sul tem grande potencial para o uso desta fonte alternativa. “Brasil e Argentina são abençoados pela natureza. Num futuro próximo, esses países poderão produzir energia sem derramar uma única gota de óleo”, disse.

Problemas específicos como o caso das pequenas ilhas também foram tratados durante a conferência. O presidente da Aliança dos Estados das Ilhas Pequenas (Aosis), Angus Friday, destacou o papel das mudanças climáticas na definição de uma nova matriz energética mundial. “As mudanças climáticas são o asteróide que pode destruir o mundo”, enfatizou Friday. Ele lembrou o ano de 2004, quando Granada foi atingida pelo Furacão Ivan – 19% das casas, 80% da agricultura e 70% dos barcos foram destruídos. “Os países podem entender o que significa uma devastação desta magnitude?” Para ele, os biocombustíveis têm importante papel para mitigar os impactos do aquecimento global.

As palestras da manhã foram encerradas por Christine Lins, secretária-geral do Conselho Europeu de Energias Renováveis, que apresentou o panorama da Europa. Segundo ela, a energia renovável deve se basear no tripé competitividade, segurança de fornecimento e sustentabilidade.

“A Europa acredita que as fontes renováveis são as fontes do futuro”, afirmou. O compromisso europeu é que até 2020, 20% das fontes de energia da Europa sejam renováveis. Para isso, informou Christine, será feito um investimento de 443 bilhões de euros até essa data.

Fonte Itaipu Binacional



Diretor-geral da Onudi afirma que o país é modelo


O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), Kandeh Yumkella, vê o Fórum Global de Energias Renováveis como uma oportunidade de replicar exemplos bem sucedidos na obtenção de energia limpa – sobretudo os brasileiros – em outros países. “Aqui vemos exemplos práticos, e não apenas teóricos, da utilização de fontes renováveis de energia. Por isso, considero este o lugar certo para discutirmos esse tema”, disse o diretor-geral da Onudi na abertura oficial do encontro, realizada domingo à noite, no Hotel Bourbon Cataratas, em Foz do Iguaçu.

Yumkella destacou o fato de poder conhecer e levar a outros países “visões de líderes, como as que produziram Itaipu.” “Atualmente, milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade, principalmente na África. E não podemos falar de desenvolvimento industrial sem crescimento energético. Por isso esse tema é tão importante”, afirmou o diretor.

“Vemos, no Brasil, experiências que são exemplos para o resto do mundo. Elas mostram que o desenvolvimento das tecnologias para obtenção de energia renovável é perfeitamente possível”, analisou.

Yumkella é partidário da posição brasileira na “cruzada” em favor dos biocombustíveis. Ele considera que a alta no preço dos alimentos se deve ao aumento do preço do petróleo, visão defendida também pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Para Yumkella, não é coincidência que os países mais pobres do mundo sejam também os que tenham menos acesso à eletricidade.

Mas o diretor-geral da Onudi é também um otimista. “Ouço sempre as mesmas perguntas no mundo todo. Uma delas é: como tornar a bioenergia acessível? O que podemos fazer? Acredito que podemos fazer a diferença.”

Mais de 50 países no Fórum de Energias Renováveis

Foi aberto domingo (18/5) à noite, em Foz do Iguaçu, o Fórum Global de Energias Renováveis, que reuni cerca de 1.200 participantes de mais de 50 países. Os representantes estrangeiros vieram ao Brasil não só para discutir o futuro energético do planeta, mas também para conhecer a experiência bem-sucedida que o país desenvolveu no campo das energias renováveis, especialmente a hidreletricidade e os biocombustíveis.


“O Brasil tem uma posição de destaque no cenário internacional, em função da participação em larga escala de fontes limpas na matriz energética nacional”, afirma Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, uma das organizadoras do evento, juntamente com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), o Ministério de Minas e Energia e a Eletrobrás.

“O Brasil tem um potencial ilimitado para o desenvolvimento de energias renováveis, por conta de suas características relacionadas ao clima, geografia, biodiversidade, recursos naturais e o setor agropecuário”, diz Samek.

Atualmente, 79% da produção brasileira de energia elétrica provêm de fontes renováveis, contra 23,4% da média mundial. Em relação à energia primária nacional (elétrica + combustíveis), 55% provêm de fontes renováveis, enquanto no mundo a participação é de apenas 13%. Pesa nessa comparação a enorme produção e o conhecimento acumulado sobre o álcool combustível no Brasil, fruto de pesquisas iniciadas na década de 1970.

Em função dessas experiências, existe a expectativa de que o Fórum Global de Energias Renováveis também sirva para aumentar o intercâmbio comercial entre o Brasil e outros países, no campo das energias. “A questão ambiental, especialmente o aquecimento global, impõe a necessidade de desenvolvimento de fontes limpas e a demanda por energia na sociedade é crescente. Por isso, o país tem muito a ensinar, haja vista a experiência de Itaipu, a maior unidade produtora de energia renovável no mundo”, acrescenta Samek.

O evento

O Fórum Global foi aberto domingo, às 18h30, no Hotel Bourbon Cataratas. A abertura contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do diretor-geral da Onudi, Kandeh Yumkella, do presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopez, e dos diretores-gerais da Itaipu Binacional, Jorge Samek (Brasil) e Ramón Roa (Paraguai).

Biocombustíveis serão foco do Fórum, diz ministro

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tratou de ir direto ao assunto principal. “Esta reunião vai tratar preponderantemente dos biocombustíveis. Este será o tema central”, ressaltou o ministro. Ele atacou as críticas feitas ao desenvolvimento dos biocombustíveis como opção para todo o mundo, proposto pelo Brasil, e destacou o papel do País como modelo de país explorador de energia renovável. De fato, enquanto 46% da energia utilizada no Brasil provém desse tipo de fonte, a média planetária é de 13%.

Entre os dias 19 e 21, os participantes debaterão temas como as tendências para a energia no cenário mundial, a relação entre mudanças climáticas e as fontes de energia, condições de mercado para as energias renováveis, o papel das hidrelétricas (grandes e pequenas) e de outras fontes limpas como solar, biomassa, eólica e hidrogênio. O evento termina com uma visita à usina de Itaipu.

Coube à Onudi e à Eletrobrás – e empresas do sistema (Itaipu, Furnas, Eletrosul, Chesf, Eletronorte, CGTEE, Eletronuclear e Cepel) – coordenar a logística e a organização do evento.

Experiências

Os participantes do evento também terão a oportunidade de conhecer de perto unidades de demonstração de fontes energéticas limpas que a Itaipu e diversas instituições parceiras implantaram na região Oeste do Paraná, como parte da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis. É o caso da Granja Colombari, em São Miguel do Iguaçu, que utiliza dejetos da suinocultura para gerar biogás e transformá-lo em energia; a Fazenda Iguaçu, da Star Milk, em Vera Cruz do Oeste, que utiliza biogás e biodiesel próprios; e a Estação de Tratamento Ouro Verde, da Sanepar, que conta com geração híbrida (biogás aliado a painéis solares); entre outras.


“Com esses projetos, a Itaipu demonstra que a hidreletricidade pode gerar ainda mais benefícios para a sociedade, ajudando a promover o desenvolvimento de outras energias renováveis”, afirma Samek.



Fonte: Itaipu

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Assentamentos começam a ser visitados para explicar o projeto de produção de biocombustíveis

Veja mais fotos da visita

Um dia após o Seminário Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia, realizado 8 de maio. Os representantes da Unitrabalho, Edson Pilatti, e da Rede Bio Brasil, Cláudio Ritter Alves e Nicanor Pena Médici, foram até um dos assentamentos do município de Planaltina do Oeste apresentar a proposta de produção de biocombustíveis e o modelo agrosilvipastoril.

Acompanhados do Célio, técnico do MST, eles explicaram como funciona a proposta de produção de biocombustíveis a partir das prensas de extração de óleo e farelo. “Tecnologia que desenvolvemos para os pequenos agricultores e é fabricação exclusiva da CTMC – Cooperativa dos Metalúrgicos de Canoas, que é uma empresa da Economia Solidária com certificação ISO 9001”, ressaltou Nicanor.

Edson Pilatti falou dos novos desafios do MST. “Antes vocês lutavam para ter a terra, agora a luta é para fazer esta terra produzir e assumir o controle da produção”.

Nicanor explicou como funciona o sistema que a Rede Bio Brasil está propondo para os agricultores. “Nós somos uma empresa que trabalha na forma de rede na Economia Solidária, fabricamos a prensa, vocês são a outra ponta desta cadeia, que é a parte da produção. Nosso objetivo é fazer parceria com vocês, para que além de produzir os alimentos vocês possam beneficiá-lo, agregando mais valor aos seus produtos, vendendo a um preço melhor”.

A proposta da Rede Bio Brasil é fabricar as prensas e disponibilizar para os Agricultores que passarão a produzir óleo combustível, que pode servir para gerar energia nos motores dos tratores e caminhões do assentamento, assim como também gerar energia elétrica para futuras agroindústrias e para o consumo próprio, tornando assim a propriedade auto-sustentável.

A concepção de agroindústria está baseada na agricultura sustentável, que objetiva o desenvolvimento humano e a preservação do meio ambiente, utilizando tecnologias como a permacultura e a gestão integrada dos processos construtivos e operacionais. Neste sistema vários assentamentos podem produzir o biocombustível em escala e até comercializar o excedente. A máquina além de produzir biocombustível gera um outro produto importante para os assentamentos que é o farelo, para alimentar o gado, tornando-o mais produtivo, melhorando assim a produção de leite.

“Mas antes de tudo é necessário fazer um estudo sobre a produção e com base em dados fundiários, de clima, de solo, de recursos hídricos e demais informações necessárias a um Plano Agrícola, cotejados com os dados de consumo (humano e animal) de alimentos e combustíveis, podemos calcular a estrutura agroindustrial necessária ao suprimento da demanda, bem como projetar, orçar e construir”, explicou Nicanor.

Os assentamentos também necessitam se organizar na forma de pessoas jurídicas para buscar recursos junto ao Governo Federal, para financiar a instalação dos equipamentos.

A maioria dos agricultores Sem Terra tinham comparecido ao Seminário realizado no dia anterior e aproveitaram para esclarecer suas dúvidas. Entre elas a relação para a instalação da prensa.

Na parceria da Bio Brasil os agricultores ficam com 75% daquilo que obtém com a produção e 25% é para a manutenção, assistência técnica e colocação da prensa nos assentamentos. "Os agricultores também se transforma em acionistas da Rede Bio Brasil", lembrou Nicanor.

Dentro da mesma proposta 80% da produção é do agricultor e 20% é para comercializar dentro da rede de economia solidária.


Por Luis Henrique Silveira

Engenho Comunicação e Arte Ltda










Saída de Marina pode elevar pressão contra etanol

A saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente poderá aumentar a pressão externa contra a produção de biocombustíveis, disse a representante da ONG The Nature Conservancy no Brasil, Ana Cristina Barros, em entrevista à BBC Brasil.


Segundo ela, em um momento em que o país está na agenda internacional por conta das críticas ao avanço da agricultura para a produção de etanol, "a indicação de que o Brasil vai fragilizar as regras ambientais vai ser muito percebida".

"Marina Silva dava um selo de qualidade ao governo. Com a sua saída, o governo perde este selo", disse. "Não quer dizer que não haja mais qualidade. Mas a pergunta vai estar lá."

"Momentaneamente, vai aumentar muito a expectativa", afirmou Ana Cristina Barros.

A representante da The Nature Conservancy afirmou que Marina Silva tinha "um pulso muito forte" e, em sua gestão de mais de seis anos à frente da pasta de Meio Ambiente, deu um rumo "muito preciso" à questão ambiental no Brasil.

"Esperamos que não haja mudança (de rumo)", disse.

WWF

O WWF-Brasil (Fundo Mundial para Natureza) lamentou a saída de Marina Silva do ministério.

"Trata-se de uma clara demonstração de que a área ambiental não tem espaço no atual governo", afirmou Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

Segundo Hamú, a saída da ministra gera uma grande insegurança em relação ao futuro.

"Ela tentou, em vão, construir uma política transversal de desenvolvimento sustentável, que envolvesse todos os ministérios e não apenas o Ministério do Meio Ambiente", disse.

Para a secretária-geral do WWF-Brasil, a saída de Marina Silva poderá ter repercussões no exterior.

"O pedido de demissão de Marina Silva terá uma repercussão muito negativa para o Brasil no exterior. O único lado positivo é que ganharemos de volta uma excelente senadora", afirmou Hamú.

Fonte BBC Brasil.com


Saída de ministra afeta imagem do Brasil


Na opinião do professor da London School of Economics (LSE) Anthony Hall, a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente afeta a imagem que o mundo tem do Brasil no que diz respeito às questões ambientais.

"Eu acho que sua saída vai ser interpretada como um enfraquecimento da preocupação do governo com o meio ambiente e com a conservação da floresta", afirmou Hall em entrevista à BBC Brasil.

"Não sei se é verdade, mas será visto assim", afirmou Hall, especialista em desenvolvimento sustentável e pesquisador de questões ligadas à floresta amazônica há mais de 20 anos.

Segundo Hall, devido a fatores como sua origem pobre, sua atuação no movimento de seringueiros e sua condição de ex-analfabeta, Marina Silva simbolizava progresso social e também a importância dada pelo governo à questão do meio ambiente.

"Sua nomeação para o ministério foi um golpe de mestre do presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva)", disse Hall.

Imagem

"Será muito difícil substituí-la. Encontrar alguém que simbolize esses valores", afirmou Hall.

Segundo o professor da LSE, a ministra também tinha um papel importante ao dar "um certo grau de uniformidade" entre os objetivos do governo e das Organizações Não-Governamentais (ONGs).

Considerada um símbolo da luta pela conservação da floresta amazônica, Marina Silva tem uma imagem positiva no exterior.

Em janeiro deste ano, a ministra chegou a ser citada pelo jornal britânico The Guardian em uma lista das "50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta".

O jornal afirmava que, sob sua gestão no ministério, o desmatamento na Amazônia caiu 75% e vastas áreas de floresta foram destinados a comunidades indígenas.

Em uma reportagem de 2005, o jornal americano The New York Times afirmava que graças à liderança da ministra, "o Brasil está começando a impor sua autoridade em áreas da floresta onde não havia lei".

Stédile visita a escola Miltom Santos em Maringá



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O líder dos Sem Terra João Pedro Stédile, no dia 7 de maio visitou a escola Miltom Santos em Maringá, onde participou de uma mística dos alunos da escola e proferiu algumas palavras para os alunos e militantes do Movimento.

A escola criada em 2001, está num terreno com concessão do Município, possui na sede 4 hectares e 30 alqueires. A escola é de nível médio e pós médio. Por uma questão ideológica o atual prefeito de Maringá está querendo tirar o terreno da Escola.

A Escola atende a necessidade de organização e se propõe a ser um centro de formação para capacitar a classe trabalhadora. Por este motivo está localizada distante dos acampamentos e próxima a cidade.

No local antes existiam somente esqueletos e estruturas de concretos. Era um local de acúmulo de lixo e uso de drogas, com suas terras completamente degradadas pois funcionava como uma jazida de cascalho.

Nestes anos o MST está recuperando o espaço, começaram a limpar e a produzir. A formação é técnica mas também política. Futuramente, além de um espaço de referência para a classe trabalhadora do campo e da cidade, pretende-se que ela seja também um espaço de comercialização dos assentamentos e se torne numa referência nas pesquisas de agroecologia.

A primeira turma iniciou em 2003 e se formou em 2005 no curso técnico de agroecologia, com apoio da Universidade Federal do Paraná e Estadual de Maringá. No final deste ano formará mais uma turma de técnicos.

Os estudantes passam uma temporada na escola e depois retornam para os seus assentamentos, o local também serve de casa de estudante para aqueles que estão na universidade.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Entrevista João Pedro Stédile



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Entrevista realizada durante a estada de João Pedro Stédile, Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em Maringá, por ocasião do Seminário Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia, realizado dia 8 de maio de 2008, no teatro Marista. Promovido pela Fundação Nacional Unitrabalho, UEM e Sindicato do Engenheiros do Paraná (Senge/Maringá).

sábado, 10 de maio de 2008

SINGER E STÉDILE: "É preciso mudar as formas de produção e consumo”

Reunidos no seminário Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia, realizado em Maringá (PR), Paul Singer e João Pedro Stédile falaram da crise no preço do petróleo e dos alimentos, da expansão dos biocombustíveis e dos projetos para a agricultura familiar.

MARINGÁ – Os economistas Paul Singer (secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho) e João Pedro Stédile (membro da coordenação nacional do MST), foram convidados especiais do seminário Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia, realizado na quinta-feira (8) em Maringá (PR), numa parceria entre a Unitrabalho, a Universidade Estadual de Maringá e o Sindicato dos Engenheiros do Paraná. Frente a uma platéia formada por agricultores familiares, assentados, técnicos, professores e representantes do poder público, Singer e Stédile abordaram temas como biocombustíveis, aquecimento global, crise na produção de alimentos, alta do preço do petróleo e organização da agricultura familiar, entre outros.

Leia a seguir os principais trechos das intervenções de João Pedro Stédile e Paul Singer no seminário realizado em Maringá:

Contexto econômico da agricultura mundial

Stédile - Estamos em uma nova fase do capitalismo, na qual os setores mais dinâmicos de controle são os bancos e as grandes empresas transnacionais que controlam os ramos de produção em nível global. O neoliberalismo, em termos de modelo econômico, significa que agora as economias do mundo estão dirigidas pelos bancos e empresas, esse é o novo poder econômico dos capitalistas. Nos últimos 15 anos, o capital fez esse movimento de construir grandes empresas para dominar todos os setores da economia. Luz elétrica, telefone, transporte, fábricas, etc, está tudo sob o controle desse capital estrangeiro e internacional. Isso provocou grande mudança, pois nos últimos 15 anos as empresas passaram a controlar toda a produção agrícola mundial. Atualmente, não mais que 40 empresas controlam toda a produção de sementes, de fertilizantes químicos e de grãos, além do comércio desses grãos e da agroindústria (transformadora dos produtos alimentícios), ao ponto que hoje o preço dos produtos agrícolas não é mais determinado por cada agricultor em cada país, mas determinado pelo controle monopólico que essas empresas fazem em nível internacional.

As empresas manipulam os preços de acordo com seu interesse de manter sempre altas taxas de lucro. Essas empresas vieram para os países do terceiro mundo, se aliaram aos grandes produtores de terra e estes se subordinam a essa forma de produção agrícola. O capital entrou com a terra e com a espoliação do meio ambiente através da aplicação de altos índices de agrotóxicos e da produção intensiva. Além disso, o capitalista explora os trabalhadores rurais brasileiros. Os explora por um salário ridículo se comparado a Estados Unidos, Europa, México, etc. O agronegócio é a nova forma de o capitalismo controlar a produção. Não tem mais espaço para a agricultura familiar e camponesa, eles não precisam mais de nós, eles conseguem aumentar a produção de leite, soja, etc, sem os camponeses. Estes, têm como opção ir para as grandes cidades ou aceitar políticas de compensação social recomendadas pelo Banco Mundial, como bolsa-família, bolsa-gás, bolsa-frango, etc. Isso fere a dignidade dos camponeses. É como se dissessem: os camponeses estão excluídos, mas não os vamos deixar morrer de fome.


Singer - Os alimentos começaram a subir em 2006. O que está acontecendo é que, em diversos países, a chamada classe c deixou de comer comida de milho e trigo para comer carne e laticínios. O consumo de carne no Brasil aumentou 70%, e o mesmo acontece hoje na Índia. Quando comemos cereais, nós comemos a planta. Quando comemos carne, consumimos as duas coisas, a carne e a planta, mas o problema é que precisamos de sete quilos de cereal para obter um de carne bovina. A demanda por alimentos subiu, e isso exige muito mais terra, sol, água e trabalho humano.


As pessoas querem ter o padrão de vida que a propaganda indica como sendo o padrão dos vencedores. Há escassez de alguns alimentos, e se pergunta por quê não aumentar a produção. Deixar os alimentos escassos ao sabor do mercado é matar gente de fome. Já aconteceram motins por causa disso e outros acontecerão. Um exemplo é a revolta dos mexicanos com o aumento do preço da tortilha causado pela utilização do milho para produzir etanol. Essa crise é uma crise de fome, uma coisa que aparentemente havia sido eliminada. A ONU já fala que as Metas do Milênio para erradicar metade da fome no mundo podem voltar atrás. Se começarem a negar comida, os pobres vão ter que conseguir à unha, ou começar a saquear, como na Argentina. Recordo Celso Furtado e seus escritos clássicos sobre o mito do desenvolvimento. Se formos elevar o mundo ao padrão de consumo do americano médio, romperemos limites da natureza. Esse cenário, que Celso pintou em 1974, está se realizando em 2008.

Aquecimento global
Singer - Se nós quisermos ter uma vida mais longa e de maior qualidade, o padrão de consumo no mundo vai ter que mudar, inclusive para brasileiros, indianos e chineses. Teremos que fazer um só automóvel levar mais gente, criar bolsões de bicicleta e ciclovias, entre outras coisas. O aquecimento global deve ser contido o mais depressa possível. Todos temos algo a fazer, apesar de o aquecimento ter sido causado pelo uso irresponsável dos recursos naturais pelo grande capital. Teremos que voltar a uma dieta de cereais. Seremos condenados à fome se não mudarmos nossa forma de alimentação.

Stédile - Os problemas são tão grandes que a sociedade tem que tomar uma decisão: ou muda ou vai para o brejo. Alguns problemas ficaram mais claros e estão sendo mais bem percebidos pela sociedade. Em São Paulo, morrem no inverno 80 pessoas por semana de doenças pulmonares causadas pelos automóveis. Cientistas advertem que, se o aquecimento global aumentar mais, vai trazer um desequilíbrio na vida do planeta que pode levar inclusive a uma catástrofe do ser humano. Um grande problema é a falta de acesso à água potável para a maioria dos seres humanos. Setenta por cento da água potável do planeta é utilizada para irrigar o agronegócio e só 30% é destinada aos animais e às pessoas.

Petróleo e Biocombustíveis

Stédile - Vivemos o problema da escassez do petróleo, o preço sobe por efeito da especulação feita pelo capital financeiro que corre para comprar petróleo nas bolsas. Outro fator é que os três maiores produtores do mundo, que são Irã, Rússia e Venezuela, estão contra os EUA Uma aliança entre as empresas petroleiras, automotivas e o mercado financeiro passou a estimular a produção de agrocombustíveis, como uma falsa forma de combate à poluição, para conseguir seus objetivos de manter a margem de lucro e a utilização do veículo individual. A produção de agrocombustíveis, por si só, não é solução. Não adianta combustíveis mais saudáveis se não trocar essa matriz de transporte individual. Agora querem usar a mesma terra para produzir os agrocombustíveis.

Os setores petroleiro, automotivo e do agronegócio vieram para o Brasil para produzir aqui, porque sol, água e terra não têm mais na Europa. Os capitalistas vieram com as malas cheias de dinheiro para comprar usina e terra e estimular a produção através do etanol da cana e do óleo vegetal da soja, na forma do agronegócio. Os produtores vão produzir e entregar para essas empresas levarem para o exterior. Nenhum país do mundo se desenvolveu explorando matéria-prima, e a expansão do etanol não vai significar isso para o Brasil. Estão construindo 67 novas usinas de álcool e vão passar de quatro para doze milhões de hectares de cana e etanol, que vai ser todo exportado.

Se acontecer mesmo dessa forma, a expansão do etanol será um enorme prejuízo para o povo brasileiro, provocando a desnacionalização das nossas riquezas naturais. O monocultivo da cana em Ribeirão Preto alterou a temperatura, o clima e o lençol freático da cidade. O etanol feito do monocultivo da cana altera o meio ambiente e, em longo prazo, traz as mesmas conseqüências do petróleo. Quanto mais tiver adubo químico, feito de petróleo, e agrotóxicos, mais vão aumentar as emissões. O agrotóxico glifosato tem três destinos: a terra, a água ou o nosso estômago. Em São Paulo, a cana já substitui o feijão, o milho, etc. Em outros lugares, já está empurrando a pecuária para a Amazônia.

Na área de óleo vegetal, não estão interessados na exportação. Justiça seja feita, o Programa Nacional de Biodiesel foi criado para dar uma alternativa à agricultura familiar. Mas, até agora o programa não cumpriu seu objetivo original, que é produzir a partir de outros tipos de plantas, como mamona, mandioca, batata-doce.

Singer - A crise dos alimentos é causada pelo preço do petróleo, que está num patamar que ninguém poderia imaginar. Pela lógica do mercado, quando um produto fica escasso e a demanda cresce é preciso aumentar a produção. Mas, a produção não está crescendo, pois isso possivelmente não convém ao capital internacional. O petróleo hoje é um limite econômico para a expansão. Países que estão crescendo muito, como China, Índia e Brasil, estão transformando boa parte de sua população pobre em classe média. A chamada classe c, nos últimos anos, teve um crescimento espetacular nesses países.

O preço dos alimentos cresce muito, e isso tudo é causado pela demanda de petróleo. Tem muita queima e a produção não acompanha. O papel do capital financeiro é jogar com o aumento de preços, e já dizem que o barril de petróleo vai para 200 dólares. A especulação atual se intensifica porque também é interessante para as empresas e companhias de seguro comparem o petróleo agora, porque daqui a seis meses o preço do produto estará ainda maior.

Agricultura familiar e agroenergia

Singer – Estudos da ONU comprovam a multifuncionalidade da agricultura camponesa, da agricultura familiar. A monocultura é a principal responsável pela perda de terra e água e pela nossa incapacidade de atender à demanda por alimentos. Hoje, vemos o uso dos agrotóxicos em várias extensões, e não existe água em vários lugares de terra arável. Você não consegue fazer a monocultura sem usar muito agrotóxico. É preciso acabar com a agricultura capitalista mundial, com a monocultura, e fazer uma agricultura familiar em escala ecológica. Temos que mudar radicalmente a forma de produzir os nossos produtos.

O que a humanidade está pedindo é uma nova revolução agrícola, diferente da Revolução Verde sobre a qual se basearam os conceitos do agronegócio. O passado se tornou o futuro, e hoje aqueles que detiveram os conhecimentos da agricultura ecológica são a nossa esperança. A agricultura familiar hoje é mais rentável do que a agricultura quimificada. Os insumos ficaram muitos caros por causa do preço do petróleo. A agricultura familiar é menos nociva para o meio ambiente e mais segura para os trabalhadores do que o agronegócio. Estamos numa baita crise, mas nós sabemos o caminho para sair dela. Precisamos de políticas nacionais e internacionais que regulem a forma de usar o solo e a água. Não é para outra geração, é para ontem. Os agricultores familiares são a nossa esperança.

Stédile - Temos que implementar projetos da classe trabalhadora. É possível produzirmos agrocombustíveis de uma forma mais equilibrada no meio ambiente, sem substituir os alimentos, mas também potencializando a produtividade dos alimentos. Os resíduos da produção podem ser usados como fertilizantes ou alimento para o gado. Isso só pode ser feito se o agricultor destinar apenas uma parte de suas terras para a agroenergia, e ao mesmo tempo, construir pequenas usinas. Fazer de forma cooperativada, ser dono de uma micro-usina, que pode ser feita pelas cooperativas de metalúrgicos, o que seria, inclusive, um exercício de complementaridade. Assim, podemos produzir energia sustentável, que dê mais renda e cidadania. Temos que criar em cada município pólos de produção de energia para que o agricultor familiar não dependa mais da Petrobras. Se fizermos isso em todo o Brasil, vocês vão ver que o povo vai se apoderar. Não existe independência política e econômica sem soberania alimentar. Precisamos produzir nossa própria energia.