Dentro da programação do Seminário “Por uma Nova Política Energética no Brasil”, promovido pelo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, foi realizado na noite desta quinta-feira, 23 de maio, um ato público em que se discutiu a necessidade de se construir e implementar um novo modelo de produção de energia limpa no país.
O ato foi coordenado por dom Pedro Luiz Stringhini, membro da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz da CNBB. Estavam presentes representantes de entidades e movimentos que possuem posicionamento contrário ao uso da energia nuclear e da construção de novas hidrelétricas, e favoráveis ao uso de fontes de energia limpa e renovável. Por isso, lançaram neste ato a Frente por uma Nova Política Energética no Brasil.
De acordo com o assessor do Fórum, Ivo Poleto, o que promoveu o surgimento desta iniciativa foi a consciência de que a humanidade vive uma situação crítica. “Se nós descuidarmos, seja na escolha ou no uso das fontes a partir das quais nós vamos produzir, distribuir e consumir energia, do jeito que está agora, a Terra vai entrando em incapacidade de repor os bens naturais explorados. Ao mesmo tempo, vai se sentido a estrutura da atmosfera modificada, gerando o aquecimento e mudanças climáticas”, explica.
Por este motivo, segundo Ivo, é necessária a busca por um novo modelo, com o uso de fontes alternativas de energia que não foram usadas até agora, e que são realmente limpas, como o sol, os ventos, o movimento das ondas marítimas e a biomassa. “Alternativas existem, mas se a concepção do mundo não muda, não adiantará nada”, afirmou dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB, que no ato público lembrou a necessidade de que a humanidade mude também a sua forma de se relacionar com a natureza. “A relação não pode ser de subjugação, mas de cuidado, de respeito”.
Cândido Munduruku, representante dos povos indígenas, falou da luta de seu povo contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará
Cândido Munduruku, representante dos povos indígenas, falou da luta de seu povo contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará
Estavam presentes no ato Juliana Malerba, da Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional, que trouxe informações importantes sobre as consequências do uso da energia nuclear. Também o professor Helter Scalabrini, da Articulação Nuclear Brasileira, falou dos projetos do governo em relação à construção de usinas nucleares, e a consciência que já existe na população em torno deste tema. Cândido Munduruku, representante dos povos indígenas, falou da luta de seu povo contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará. O procurador da República no estado do Pará, Felício Pontes, também prestigiou o ato político.
“No caso da energia nuclear – explica Ivo Poleto – sabemos que existe um planejamento do governo federal de que, além da produção a partir das usinas hidrelétricas, há o projeto de utilizar as reservas de urânio do país, que são suficientes para a conclusão do projeto de Angra, e a construção de outras, especialmente na região de Caetité, na Bahia.” Ele, porém, lembra que o Brasil não possui um planejamento de segurança para o uso da energia nuclear, e que existe uma pressão em vários países para o desmonte das usinas existentes, especialmente no Japão e na França. “Todo o processo de produção é contaminador, e não se sabe mesmo o que fazer com os dejetos que resultam da produção da energia nuclear. Por isso, é urgente uma luta para proibir o uso dessa energia: por causa dos riscos, e porque ela não é necessária”.
O ato foi encerrado com a exibição de um documentário sobre dois grandes projetos hidrelétricos em andamento: Belo Monte, no Brasil, e Ilisu, na Turquia.
Fonte: texto: CNBB / fotos: CÁRITAS BRASILEIRA