Para Paul Singer, a economia solidária não é uma compensação ao padrão da economia capitalista e às regiões que não podem entrar nesta lógica, mas sim uma alternativa a este modelo.
Clarissa Pont
OLINDA – Secretário Nacional de Economia Solidária do Governo Lula desde junho de 2003, Paul Singer é capaz de captar histórias de todo o Brasil e apresentá-las com um otimismo único. Mal a Conferência terminou, pescadoras ribeirinhas de Minas Gerais, assentados da Bahia e trabalhadores rurais de Pernambuco cercaram o economista de origem austríaca para conversas, fotos e até autógrafos. Constrangido, mas munido de números e histórias de todo País sobre experiências desta inovadora alternativa de geração de trabalho e renda, Singer conversou com cada um dos presentes. Cena, aliás, que se repete a cada viagem e a cada vez em que ele fala em público para os verdadeiros protagonistas da economia solidária.
“A diferença entre o cooperativismo solidário e um pretenso cooperativismo do agronegócio não é só uma questão de escala, é uma questão de pulsão. A economia solidária não é uma compensação ao capitalismo e às regiões que não podem entrar nesta lógica, é a nossa alternativa”, disse. Singer atua dentro do Ministério do Trabalho e Emprego mantendo uma interlocução permanente entre setores do governo e da sociedade civil.
Para ele, “políticas que implicam em mudanças sociais profundas não podem ser feitas de cima para baixo, tem de ser feitas horizontalmente, com uma cumplicidade entre o agente público e ator social”. A Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) funciona em Brasília, mas o professor circula pelo Brasil. Seja na Teia que reuniu jovens de todos os Pontos de Cultura do País em Belo Horizonte, no ano passado, ou em bancas de pós-graduação na USP, o professor Singer viaja para garantir justamente essa cumplicidade presente na 1ª Conferência de Desenvolvimento Rural.
Ênfase na diversidade e limites ao latifúndio rural
Maria Emília Pacheco, da Federação de Órgãos para a Assistência Educacional e Social (FASE), dividiu a mesa com Singer. “O princípio da agroecologia é a diversidade agrícola e uma relação harmoniosa com a natureza. Os sistemas agroecológicos são diferentes em cada lugar, no Cerrado, no Pampa. Não há como haver uma massificação de produção”, resumiu Maria Emília.
Renato Maluf, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar, completou o painel e enfatizou que a alta dos preços dos alimentos não é conjuntural, mas parte de um modelo global. Para ele, a solução é proteger e incentivar a agricultura familiar. “Com a crise, a questão da soberania alimentar emergiu. A primeira questão é a dos preços, que tem impacto direto no orçamento das famílias. Isso prejudica o direito à alimentação das famílias mais pobres e que precisam de política social. No caso do Brasil, com a agricultura familiar responsável por uma parte substantiva da produção de alimento no Brasil, vira uma área estratégica”, explica Maluf.
Ele sublinha a agricultura familiar como alternativa por estimular a diversidade de biomas, de formas de produzir e de tipos de alimentos. “O agronegócio é parte da crise. Ele pode ser eficiente do ponto de vista produtivo, mas é dirigido a um número restrito de exportadores, é concentrador, agressivo ao meio ambiente e não gera empregos, como dizem”. Singer concordou com Maluf ao afirmar que o tamanho correto para uma área rural é aquele que delimita o pedaço de terra necessário para uma família plantar.
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