sábado, 7 de junho de 2008

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DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ ?
Publicado no dia mundial do meio ambiente - 5 de junho


"O que está acontencendo? Estamos assistindo ao fim do mundo e fazendo só isto? Cadê os homens e mulheres valentes? Onde estão a honra e a coragem? Não iremos lutar mais por nosso futuro? O MUNDO ESTÁ ACABANDO, ESTA FERIDO, SANGRANDO.. Cadê os rios limpos e seus peixes? E os passáros, sapos e grilos que até agora cantavam? E os mares com as baleias, botos, peixes-bois e toda sua vida? Onde estão as matas e as florestas? Destruiram toda a vida que Deus nos deu. Vamos ficar de braços cruzados?"


O parágrafo acima, citado por Daniel, do Instituto iBiosfera, remete-nos a questionamentos internos em busca de explicações do porquê - ou porquês - da destruição da natureza que continua após quase 20 anos de eventos, planos, projetos, promessas e metas medíocres que são realmente atingidas, porém que minimamente satisfazem as grandes e intensas necessidades de transformações. Há uma característica psicológica no ser humano que provavelmente possa explicar esta crescente letargia. Trata-se do acomodamento a situações indesejadas através de mecanismos de esquecimento. Em massa, as pessoas esquecem-se como era antigamente. Como em suas infâncias brincavam com a água cristalina que escorria das bicas das minas, enquanto sabiás e dezenas de outros pássaros cantarolavam animadoramente nos bosques ao redor. E isso tudo acontecia bem próximo, nos arrabaldes das cidades. Nos dias de hoje estas cenas são raras.

Uma inexplicável força de acomodação faz com que as pessoas se esqueçam dos encantos da natureza para trocá-los pelos atrativos dos enfeites, brinquedos e utensílios mecanizados, informatizados e robotizados. Para onde vai a nossa civilização? Para onde se dirigem os jorros desta onda de irrefreiável crescimento promovida pela ciência, pela tecnologia, pela indústria e pelo comércio, porém alimentados pela gana desmedida de facilidades, confortos e curiosidades intelectuais das massas? Só parece haver um destino final para esta fatídica caminhada: Um permanente distanciamento dos humanos de sua origem biológica, de sua dependência a antigas e imutáveis leis de inter-relacionamento, e até mesmo de sua integração cósmica. Estes são valores cultivados por muitos, pois significam nossas bases, nossas origens, nossos ciclos evolutivos e, portanto, deveriam significar a nossa salvação e todas as nossas metas futuras. Entretanto a realidade não nos demonstra esta tendência. Prova-nos, sim, o contrário. Tudo sinaliza e alerta que a civilização dos homens se distanciará tanto de suas características originais que poderemos visualizá-los como "extraterrestres" em seu próprio planeta.

Compensa, então, tentar barrar esta gigantesca força que conduzirá, afinal, os homens ao seu máximo desenvolvimento, mesmo que este estágio pressuponha a perda de suas bases e características primárias, além de toda transformação deletéria que necessariamente suas atividades imporão ao meio ambiente e às outras espécies de vida ? Quem conclui que compensa, então é só seguir os passos da maioria que desfruta dos recursos tecnológicos atuais e que torna tímidas e simbólicas as ações de "preservação ambiental", de "tecnologias limpas", de "desenvolvimento sustentável", especialmente quando responsabilizados e concretizados por governos, empresas, escolas ou outras regiões e outros povos. Esta forma é mais uma das tramas urdidas pelas mentes individuais e coletivas para fazerem as pessoas esquecerem-se de seu passado e considerarem que no presente tudo está bem.

Os indivíduos sensíveis e despertos que se previnam deste engodo, que se inicia dentro deles mesmos. Porém, se muitos não são portadores desta sensibilidade e deste despertamento, então que se embalem no otimismo gerado pela planificação e pela concretização (?) dos tímidos e simbólicos projetos defensores do meio ambiente. "As ciências exatas caminham a passos largos e encontrarão soluções para tantos desequilíbrios provocados pelas crescentes ações humanas"..."As ciências humanas estão, agora, a entenderem os povos e seus problemas de uma forma holística e suas soluções sistêmicas possibilitarão a tão almejada Idade do Ouro - mito platônico -, quando haverá perfeita distribuição de rendas e a justiça social será alcançada....". "Há que se ter otimismo em relação a este modelo. Ele deixa que nossos desejos tecnológicos se expressem, mesmo que de maneira limitada ou controlada. Um dia a civilização será completamente evoluída e olharemos para o século XXI como agora olhamos para a antiguidade. Porque não apostar nesta proposta e neste caminho, que é o da maioria, e que é uma expressão peremptória da própria natureza humana?"

Os que concluirem que o outro extremo é a melhor opção, então que arregacem as mangas e comecem a trabalhar, verdadeiramente, para uma radical possível transformação no seio da sociedade. E este trabalho, necessariamente, inicia-se pela transformação de seus próprios valores, costumes, padrões e estilos de vida. Que eles deixem as infladas cidades para os que lá desejarem sucumbir e armem suas barracas em prados verdejantes, em ilhas formosas ou nas cercanias de frondosas florestas. Que suas vidas sejam simples, assim como são simples todas as belezas da vida. Que em vez de vivenciarem 98% de seus desejos tecnológicos e somente 2% de suas afetividades bucólicas, que dêem franca vazão a seus desejos e impulsos pelas belezas da natureza e pelo prazer provindo de ações que realmente os harmonizem com as outras vidas e o meio ambiente. Difícil ? Utopia ? Vale a pena tentar?

É mais provável que a tendência e a força irresistível dos primeiros - os que querem o desenvolvimento acelerado e a todo custo - não permitirão que o cenário humano se transforme de maneira, para eles, tão radical. No entanto, parece compensador, desde que influências positivas moldarão mais convenientemente o mundo daqueles, e estes - os que preferirão preservar valores e formas originais - terão a oportunidade de criarem um outro mundo, só para si, lindo, esplendoroso....mas isolado fisicamente do mundo tecnológico dos primeiros.

Só resta uma dúvida : - O afã desenvolvimentista (sustentável ou não) dos primeiros não iria aumentar os riscos de uma inviabilização deste dois mundos? Qual é a sua posição ? Há posições intermediárias aproveitáveis que não signifiquem outras sutis estratégias psicológicas para falsearem um modelo impossível de relação entre o homem e a natureza? De que lado você está? Do lado dos que consideram que tudo corre muito bem e que as soluções virão, ou do lado que consegue perceber a capciosa e malévola destruição dos encantos da natureza ? Lembra-se que, por todos os recantos, milhares de pássaros cantavam, milhares de animais e aves deslumbravam-se com as águas cristalinas dos rios, quando os ventos eram suaves e puros e quando os peixes, os pássaros, os sapos, os grilos, as baleias, os botos, os peixes-boi, as matas e as florestas vicejavam vida por todo o mundo? Lembra-se?.... Ou continua a achar que tudo está normal? O mundo que nós conhecemos e que foi o berço de nossas origens está acabando ou iremos preservar o pouco que conseguirmos em zoológicos, em bancos de sementes e em parques florestais, e depois curtiremos à vontade todas as novidades oferecidas pela inteligência humana? Você quer seguir os passos da maioria que decididamente criará um mundo altamente tecnológico e injusto - uma verdadeira base de predadores extraterrestres na Terra? Ou dedicará o seu esforço para a criação de um outro mundo, harmonioso e justo, onde a ciência e seus recursos serão usados de maneira realmente possível, e em harmonia com as leis naturais e com respeito e convivência simpática a todas as formas de vida ? De que lado você está ?!!

Luiz A. V. Spinola, maio/2008


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