segunda-feira, 19 de maio de 2008

Saída de Marina pode elevar pressão contra etanol

A saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente poderá aumentar a pressão externa contra a produção de biocombustíveis, disse a representante da ONG The Nature Conservancy no Brasil, Ana Cristina Barros, em entrevista à BBC Brasil.


Segundo ela, em um momento em que o país está na agenda internacional por conta das críticas ao avanço da agricultura para a produção de etanol, "a indicação de que o Brasil vai fragilizar as regras ambientais vai ser muito percebida".

"Marina Silva dava um selo de qualidade ao governo. Com a sua saída, o governo perde este selo", disse. "Não quer dizer que não haja mais qualidade. Mas a pergunta vai estar lá."

"Momentaneamente, vai aumentar muito a expectativa", afirmou Ana Cristina Barros.

A representante da The Nature Conservancy afirmou que Marina Silva tinha "um pulso muito forte" e, em sua gestão de mais de seis anos à frente da pasta de Meio Ambiente, deu um rumo "muito preciso" à questão ambiental no Brasil.

"Esperamos que não haja mudança (de rumo)", disse.

WWF

O WWF-Brasil (Fundo Mundial para Natureza) lamentou a saída de Marina Silva do ministério.

"Trata-se de uma clara demonstração de que a área ambiental não tem espaço no atual governo", afirmou Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

Segundo Hamú, a saída da ministra gera uma grande insegurança em relação ao futuro.

"Ela tentou, em vão, construir uma política transversal de desenvolvimento sustentável, que envolvesse todos os ministérios e não apenas o Ministério do Meio Ambiente", disse.

Para a secretária-geral do WWF-Brasil, a saída de Marina Silva poderá ter repercussões no exterior.

"O pedido de demissão de Marina Silva terá uma repercussão muito negativa para o Brasil no exterior. O único lado positivo é que ganharemos de volta uma excelente senadora", afirmou Hamú.

Fonte BBC Brasil.com


Saída de ministra afeta imagem do Brasil


Na opinião do professor da London School of Economics (LSE) Anthony Hall, a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente afeta a imagem que o mundo tem do Brasil no que diz respeito às questões ambientais.

"Eu acho que sua saída vai ser interpretada como um enfraquecimento da preocupação do governo com o meio ambiente e com a conservação da floresta", afirmou Hall em entrevista à BBC Brasil.

"Não sei se é verdade, mas será visto assim", afirmou Hall, especialista em desenvolvimento sustentável e pesquisador de questões ligadas à floresta amazônica há mais de 20 anos.

Segundo Hall, devido a fatores como sua origem pobre, sua atuação no movimento de seringueiros e sua condição de ex-analfabeta, Marina Silva simbolizava progresso social e também a importância dada pelo governo à questão do meio ambiente.

"Sua nomeação para o ministério foi um golpe de mestre do presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva)", disse Hall.

Imagem

"Será muito difícil substituí-la. Encontrar alguém que simbolize esses valores", afirmou Hall.

Segundo o professor da LSE, a ministra também tinha um papel importante ao dar "um certo grau de uniformidade" entre os objetivos do governo e das Organizações Não-Governamentais (ONGs).

Considerada um símbolo da luta pela conservação da floresta amazônica, Marina Silva tem uma imagem positiva no exterior.

Em janeiro deste ano, a ministra chegou a ser citada pelo jornal britânico The Guardian em uma lista das "50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta".

O jornal afirmava que, sob sua gestão no ministério, o desmatamento na Amazônia caiu 75% e vastas áreas de floresta foram destinados a comunidades indígenas.

Em uma reportagem de 2005, o jornal americano The New York Times afirmava que graças à liderança da ministra, "o Brasil está começando a impor sua autoridade em áreas da floresta onde não havia lei".

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